terça-feira, 28 de setembro de 2010

O despertar

O despertar se move
com dificuldade
e o pouquinho de luz
que chega
ilumina o rosto
e só.
Não tarda até que
o dia passe
desapercebido
entre os lençóis
E vá embora ofendido
deixando um pouco
de luz no rosto
e só.

Até chegar a noite
pra despertar
sentimentos

Um comentário:

Iamni Reche disse...

A temática abordada muito se assemelha à abordagem dos primeiros poemas da autora, publicados no fim do ano de 2008 no livro Tudo em Versos (Editora Blogspot). O narrador em primeira pessoa dá o toque. O verbo disfarçado de substantivo no título transfere movimento e ações lânguidas ao despertar que é, em realidade, o mote para iniciar qualquer dia e qualquer vida. Pode estar reproduzindo tanto a imagem do bebê que deixa o útero materno e que tem o rosto iluminado pelos primeiros raios de luz, como o simples acordar em qualquer manhã, em qualquer cama iluminada por qualquer janela distraída. “Os lençóis” surge como anáfora indireta de corpos se movendo na cama pela manhã. O espaço de tempo que transcorre da penúltima estrofe à última não é grande (apenas 1 dia), mas é significativo. A autora, no início, exibe elementos matutinos, e encerra com o chegar da noite, que desperta não bucolismo, mas sentimentos.

O interessante é voltar no tempo e encontrar o mesmo título dado a outro poema onde o narrador deixa de encontrar o objeto com que sonhava ao acordar. A quebra do momento imaginativo – sonho – e a chegada do que há de mais real, o acordar para a vida e para o mundo, deixando o mundo dos sonhos para trás. O verso “ilumina o rosto e só” também remete a poemas anteriores, demonstrando um diálogo com a própria obra, beirando à meta-poesia.

De poucas rimas, a autora tece sonoridade e leveza. Adjetivos difíceis de serem encontrados nos poemas da nova geração. O livro, com pouco mais de trinta poemas, sugere uma leitura rápida e prazerosa, que não permite nenhuma interrupção de fôlego. Merece ser lido e relido.